A participação nos sacramentos pascais
A Liturgia da Quaresma, toda ela orientada para o mistério da Páscoa, está entretecida de sinais sacramentais, e, particularmente, voltada para os sacramentos pascais. Não é em vão que S. Paulo nos recorda o mistério pascal no qual fomos sepultados pelo Baptismo (Cf. Rom. 6, 3-6). Não é sem motivo que a Eucaristia é o sacramento e o sacrifício com o qual Jesus inaugurou a Páscoa nova. Não é porventura a Eucaristia o memorial da morte e ressurreição do Senhor?
É assim que a Igreja entende, desde os primeiros tempos. Por isso instituiu a Quaresma como tempo forte de vida catecumenal, em ordem ao Baptismo a celebrar na Vigília pascal; por isso manda os seus filhos comungarem eucaristicamente pela Páscoa da Ressurreição; por isso concedia aos penitentes a reconciliação pascal, em 5.ª feira santa, a fim de poderem participar em plenitude na Eucaristia da Vigília. Poder-se-ia dizer, em síntese, que a Quaresma é o grande tempo de preparação para os sacramentos da iniciação cristã, bem característicos do espírito da Páscoa. Com efeito é assim que a Igreja o entende, ao ordenar que os catecúmenos sejam iniciados sacramentalmente nessa Vigília magna da Páscoa, depois da preparação do tempo quaresmal; é ainda assim que a Igreja o entende ao mandar que os fiéis renovem as promessas do Baptismo e participem na Eucaristia pascal; é ainda esse princípio que leva a Igreja a orientar os fiéis a receberem o sacramento da Confirmação no tempo pascal, de preferência, é finalmente, por isso, que a Igreja insiste na celebração da Reconciliação sacramental no tempo da Quaresma, a fim de que a graça do Baptismo seja renovada, e o cristão participe, de modo íntimo, no mistério da Redenção, através da comunhão eucarística.
Há, portanto, na espiritualidade e na acção pastoral da Quaresma toda uma exploração a fazer dos valores sacramentais do Baptismo, do seu complemento que é a Confirmação, da Eucaristia e do sacramento da Penitência, como condição para esta. Não pode haver pastoral de Quaresma sem pastoral sacramental, a qual, por sua vez, supõe e exige a pastoral da Palavra que abre para a fé. Não há espiritualidade da Quaresma, sem uma profunda vivência do Baptismo e da Eucaristia, e, como é óbvio, do sacramento da Penitência. A Quaresma, como tempo privilegiado de salvação, a convidar-nos todos os anos à conversão, há-de levar os cristãos a assumirem, conscientemente, a sua iniciação cristã, renovando-a e revivendo-a, sobretudo na Eucaristia pascal vivida em plenitude.
† D. Manuel Madureira, Bispo emérito do Algarve,
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